terça-feira, 15 de outubro de 2013

Alguns pesquisadores franceses da morte



Michel Vovelle - Para este historiador a morte pode ser estudada nas atitudes e sensibilidades coletivas, nos discursos e nos silêncios voluntários e involuntários sobre ela, no domínio de uma história religiosa, procurando as mudanças mentais diante do significado profundo da morte na história. A Vovelle deve-se o mérito da elaboração de esquema metodológico de investigação dos testamentos, valendo-se da análise serial destes documentos: a partir de uma massa documental posta em série, de forma a comparar os dados, perceber repetições ou novidades das informações coletadas.
       Livros de sua autoria que analisam a morte na longa duração:

   

La Mort et l'Ocident de 1300 à nos jours 
                      
Piété Baroque et Déchristianisation en Provence au XVIII siècle 





Philippe Ariès - Historiador que procurou uma explicação de conjunto para as atitudes perante a morte na sociedade cristã ocidental da Idade Média aos nossos dias.  Ampliou as fontes para o estudo da morte; Detectou quatro tempos na evolução do sentido coletivo de morte:
1.  Uma morte aceita, previsível na primeira Idade Média;
2. A partir do século XII - a morte foi sendo vista com maior dramaticidade e individualidade, a morte de si mesmo;
3.  A morte dramatizada e exaltada; a morte do "outro", uma ruptura indesejável;
4.  2ª metade do século XX em diante: a morte apagada, camuflada, negada, escondida e banida do espaço familiar.
                                                      Duas de suas obras:
História da Morte no Ocidente

O Homem diante da morte. 2V
                         

Jean-Claude Schmitt
Os vivos e os mortos
na sociedade medieval
Sabendo que o destino humano é a morte, quase todas as sociedades tentaram imaginar como seriam os locais habitados e as atividades praticadas pelos que já a vida terrena. Para o historiador Jean-Claude Schmitt, os mortos têm apenas a existência que os vivos imaginam para eles. Diferentemente segundo sua cultura, suas crenças, sua época, os homens atribuem aos mortos uma vida no além, descrevem os lugares de sua morada e assim representam o que esperam para si próprios. A esse título, o imaginário da morte e da evolução dos mortos no além constitui universalmente uma parte essencial das crenças religiosas das sociedades.


Edgar MorinPara o antropólogo, sociólogo e filósofo Edgar Morin, é a morte que identifica o homem com o animal e, ao mesmo tempo, os distingue. Como todo ser vivo, o homem está sujeito à morte. Ao contrário de todo ser vivo, porém, ele nega a morte através de suas crenças, numa prolongação da vida para além dela. Em seu livro O Homem e a Morte, Morin estudou o horror à morte, o assassinato e a complexa relação entre indivíduo, sociedade e morte. Ele resgata as crenças a respeito da morte nas grandes civilizações antigas para chegar à crise contemporânea da morte.






                                                                                                                                                                                                                                             





4 comentários:

  1. E no Brasil, quem inaugura estes estudos na perspectiva historiográfica? Há muitas pesquisas a este respeito?

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  2. Olá. Há tempos este tema venha sendo estudado por pesquisadores brasileiros, com abordagens acadêmicas variadas. Podemos destacar:
    Tabu da Morte, de José Carlos Rodrigues. Aqui o autor realizou um brilhante e didático estudo antropológico-histórico dos processos de formação de nossa visão de morte.
    Os Nagô e a Morte, de Juana Elbein dos Santos. Resulta da tese de doutoramento em Etnologia, em que a antropóloga examinou algumas interpretações sobre a concepção da morte, suas instituições e seus mecanismos rituais, tais quais são expressos e elaborados simbolicamente pelos descendentes de populações da África Ocidental no Brasil.
    A morte e os mortos na sociedade brasileira, organizado pelo sociólogo José de Souza Martins
    Da Morte, Estudos Brasileiros, organizado pelo médico e psicanalista, também professor da Unicamp, Roosevelt M.S. Cassorla, na perspectiva da saúde mental temos o estudo
    Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros: um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas nas igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. É a primeira análise de cunho sociológico sobre a história dos cemitérios no Brasil, realizada pelo pesquisador Clarival do Prado Valladares (1972).
    Na historiografia, destacamos o trabalho do historiador baiano João José reis, intitulado A morte é uma festa, em 1991. Seus estudos deram publicidade às pesquisas desenvolvidas nos Programas de Pós Graduação em História e que progressivamente se multiplicariam nos anos 2000 (ver postagem de 15/10, Leitura obrigatória..."). Destacamos, ainda, os estudos de Adalgisa Arantes do Nascimento, para a região das Minas Gerais, bem como as pesquisas de Cláudia Rodrigues para o Rio de Janeiro, especialmente Lugares dos mortos na cidade dos vivos: tradições e transformações fúnebres no Rio de Janeiro. Desta autora empresto as palavras que seguem para traçar um panorama das pesquisas historiográficas que abordam a morte e temas correlatos:
    “Atualmente, podemos identificar a predominância dos estudos sobre medicalização da sociedade, criação de cemitérios públicos extramuros em meados do século XIX, arte cemiterial e costumes fúnebres. Desde os anos 2000, vêm se multiplicando estudos sobre o processo de secularização da morte, no contexto da afirmação das ideias liberais e laicistas da segunda metade do século XIX. Em menor quantidade, mas igualmente expressivas, são as análises sobre as atitudes e representações católicas diante da morte e do além-túmulo, até meados do século XIX, englobando questões sobre “morte barroca”, escatologia e rituais fúnebres católicos, atuação das associações religiosas nos funerais, etc. No entrecruzamento destes, há os estudos voltados para os costumes e concepções africanos, indígenas e protestantes; além dos voltados para questões sobre suicídio e eutanásia na sociedade brasileira, nos séculos XIX e XX. Desde 2010, vem se desenvolvendo estudos sobre memória e culto aos mortos no Brasil republicano, um período que ainda demanda muita investigação no âmbito da História da morte. Em abordagens filiadas, mais recentemente, à história cultural e à social, o que vem unificando as análises é a utilização de um corpo variado de fontes (mantendo-se o peso de testamentos e registros paroquiais de óbitos), em pesquisas que combinam os métodos quantitativos e qualitativos. Em termos teórico-metodológicos, a grande influência dos clássicos estudos e métodos franceses vem progressivamente cedendo espaço para a crescente presença do diálogo estabelecido com análises ibero-americanas na busca pelas especificidades culturais nas diferentes regiões enfocadas.”

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  3. Parabéns Adriana, por descortinar abordagens importantes sobre a cultura baiana.

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    1. Olá, Jerônimo. Obrigada pelo incentivo e que bom que você insere os estudos da morte na ampla gama de temas que compõem a nossa cultura. Abraços.

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